quarta-feira, 25 de maio de 2011

Confusão à portuguesa

Não consigo deixar de sorrir quando vejo noticias relativas à situação económica e financeira grega.

Não pela desgraça alheia, porque essa merece todo o meu respeito, uma vez que, tal como no caso português, mas sem tanto espalhafato, esta surge de uma crescente incompetência das autoridades governamentais e usurpação das instituições bancárias.

Para que todos os leitores fiquem esclarecidos, Portugal não apresentou (ou pelo menos, não com tanto descaramento) dados estatísticos completamente falsos em relação ao défice externo e dívida pública, cujos valores eram mais altos do que reportados. No fundo, um "buraco negro" nas contas públicas. Ora nada que uma pequena auditoria não fosse capaz de detectar.

E de quem é a culpa? Pois, também não sei. Pelo que vejo, é do povo... Também será, mas pela via daqueles que elegeram incompetentes como sendo seus representantes. Daí que tantos problemas se tenham agravado, com a crescente desconfiança dos "mercados" (investidores, leia-se).

Agora, o caso português é, na minha perspectiva um conjunto de duas coisas:
  • Efeito de contágio da crise grega, uma vez que pertencemos a um grupo especial de países cuja designação (sugestiva, diga-se) é PIGS - Portugal, Ireland, Greece, Spain -. Basicamente porque, já antes da adesão, percentenciamos às rubricas de débito nas contas da Alemanha e França... Um grupo de países mal vistos, portanto, trazendo consigo toda a especulação negativa dos "comandantes do mercado" a.k.a. investidores, por constituírem uma fonte de gastos, e logo de possíveis situações críticas, relativamente ao pagamento dos cupões das obrigações;
  • Políticas completamente estáticas, relativamente à crise do subprime americano (e que dificultaram o financiamento das Instituições Bancárias no mercado inter-bancário, despoletando o que se sabe), antecedidas de políticas completamente inoperativas, relativamente à captação de Investimento Estrangeiro, por falta de competitividade (em custos), face aos mercados de Leste. Entre outras ridicularias, mas sim, estas são, habitualmente, as mais vincadas.
Uma coisa é certa: NUNCA deturpámos (tanto) os dados reportados! Infelizmente, sofremos com a mentira dos outros, além das mentiras internas, que tiraram dinheiro aos contribuintes, sem efeito nas contas externas (por enquanto os offshore não são contabilizados na Balança Financeira, digo eu).

É verdade que o argumento "andaram a viver acima das possibilidades" é válido para ambas as realidades. No entanto, como é possível deduzir, o impacto da especulação, no caso grego, é bem mais forte, pelos motivos acima. E outros haverão mas, a meu ver, não tão graves.

Toda esta escrita para chegar a algumas constatações:
  • O leitor ainda acha que é credível pensar que a situação portuguesa é comparável à grega?
  • Mesmo que seja afirmativo, como justifica então que no memorando da Troika a austeridade sugerida não é tão intensa?
  • Pensando ainda que, para o nosso caso, as próprias medidas da Troika são insuficientes (e são, na minha perspectiva), ainda acha que, com o temor que os partidos políticos têm mostrado face à hipótese de incumprimento, Portugal entrar na bancarrota? É verdade que o pedido de ajuda externa foi forçado pela moção de censura ao PEC 4, mas a situação estava realmente degradante, em termos de contas públicas. Onde é que se viu 10% de juros nas Obrigações a 10 anos? (Sim, já ponderei a hipótese de uma vingança partidária, mas, caramba, estamos todos no Jardim Infantil?!)
Continuo a reiterar: a situação grega é diferente. Quando tudo isto passar, os gregos serão, com certeza, um povo muito diferente.

O mesmo já não acho para a situação portuguesa, ainda que existam medidas cujo nível de dureza, em termos de implementação e aceitação geral, serão bastante elevados. Refiro-me essencialmente às medidas que visam o Mercado de Trabalho. As privatizações, essas já eram mais do que anunciadas, tanto que, muito provavelmente, já existiram estratégias prévias em relação à gestão das "ex-empresas públicas". A tal (falta de) concorrência, portanto...

Preocupa-me, sim, que, em Portugal, pouco ou nada mude (excepto no Mercado de Trabalho), no que à gestão e capacidade de atracção de investimento diz respeito. Desde quando conseguimos aumentar a nossa competitividade por via da receita (produtividade)?

Somos um país terciarizado, com os outros sectores sem dinâmicas de inovação (salvo raras excepções, como em tudo as há). Se queremos competir, nas nossas condições, é trabalhando recebendo menos e pagando mais (precariedade, portanto), alimentando a fome desmesurada dos gestores miseráveis (salvo raras excepções, friso) que pouco ou nada investem nas dinâmicas de inovação do país, pois não têm "garantias" (luvas?).

Como dizia um certa pessoa: "a gestão é como a bimby". Os ingredientes estão lá todos, mas parece que nem com os botões e livro de instruções o prato sai bem feito.

Teremos novamente o FMI à porta daqui a 20 anos? Veremos...

terça-feira, 24 de maio de 2011

Desfasamento, a confirmação

Pois bem, não me enganei de todo nas últimas palavras que aqui escrevi.

Hoje mesmo veio a público um (no meio de tantos) vídeo de acto bárbaro e repugnante. A violência entre jovens é uma realidade latente, ignorada pelas autoridades, que afirmam pouco ou nada poder fazer contra ela.

Talvez seja melhor questionar o que é que as autoridades podem REALMENTE fazer pelos cidadãos. Se para um dirigente de qualquer tipo de organismo, temos um aparato policial que não há memória; para um cidadão "normal", temos o coração nas mãos, para que nada nem ninguém duvidoso repare que ali estamos.

No fundo, este problema pode ser abordado pelos dois posts que coloquei anteriormente. Mas foquemo-nos no segundo: os problemas da educação, em Portugal.

Ora os jovens participantes no vídeo, que doravante designarei por "aberração", são elementos que participam no Fórum Social, quando deveriam estar TODOS (agredida incluída), no Fórum Escolar.

Exemplos há, suficientes para mostrar que, hoje em dia, tudo serve para picardias entre jovens. Essas conduzem a repetidas assistências de vídeos prefixados por "aberração". Ficamos horrorizados, pasmados, revoltados e assustados que o mesmo aconteça com entes mais próximos.

Pelo que escrevo, qualquer leitor se apercebe que não consigo pensar sequer em colocar, sobre a Sociedade, o peso da responsabilidade. Incuti-la é perder tempo. Falar dela é inútil. Infelizmente.

Então passe-se para o nível seguinte. Já que está na moda o açambarcamento de receitas fiscais, porque não introduzir uma nova fonte de receita, menos progressiva e mais retaliativa.

Passo a explicar, de forma muito simples: cada vez que um educando falta deliberadamente a uma aula, sem justificação credível, apresentada junto da sua Directora de Turma, acciona-se um mecanismo de penalização monetária, por via de multa, cujo valor deveria ser necessariamente elevado (ou função do rendimento familiar), de forma a desincentivar a falta de comparência. O ensino não-superior é obrigatório. Chega de brincar com o sistema.
Para os interessados, posso esplanar este tema num post futuro.

Não sou revolucionário, não sou pró-"salazarento", sou sim contra a libertinagem crescente da Sociedade e contra a inexistência de mecanismos eficazes que minorem os efeitos e/ou existência destas aberrações.

E não, não apelo aos mecanismos que se relacionam com o uso da força. Até porque seria ridículo estar a mostrar a minha repugnância contra a violência, apelando a maior violência.

Se muitos defendem que, nos dias que correm, tudo tem um preço, pois fixe-se um "preço" para aquilo que é essencial: A SEGURANÇA DE TODOS.

Para que conste, sendo condição sine qua non: quem não tem dinheiro, não tem vícios (e tantos vícios que há por aí...)

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Desfasamento

Tenho visto com surpresa bastante, a temática da formação e educação, em Portugal, como sendo uma das "bandeiras" eleitorais de determinado partido político.

Sem procurar ser faccioso, todos sabemos o rumo das políticas dos últimos anos. Em especial, apregoa-se pelo programa "Novas Oportunidades":
  • Óptima forma de cativar aqueles que outrora as desaproveitaram;
  • Dotação do capital humano, para níveis de conhecimentos mais avançados;
  • Ambição pela polivalência dos candidatos, após formação.
De certa forma, estes pontos seriam implicitamente os objectivos deste programa, não fosse o mesmo um meio de camuflar as estatísticas portuguesas, nesta área (não vejo outra explicação).

Todos somos capazes de escrever um projecto onde contamos a nossa Vida. Mais ainda: por mais que se queira passar "atestados" de ignorância a estas pessoas, ninguém, no seu perfeito juízo, traz provas de avaliação para sua casa, sem pedir ajuda a um qualquer membro da Família, com um nível de formação superior.

No fundo, os diplomas são um mero papel que nada atesta, nada certifica, nada concede. A não ser completa ineficiência dos recursos utilizados, isto é, dos formadores que SÓ PODEM estar a leccionar desta forma, porque assim são obrigados. Não consigo imaginar outro tipo de cenário na minha cabeça. E se ele existe, prefiro nem sequer saber. Nesse caso, não é ter "sentido nenhum", é ser uma perfeita aberração.

No entanto, não são as "Novas Oportunidades" que me preocupam. Lamento, sim, que os candidatos se mantenham no status quo inicial, mesmo depois de terem acabado a formação, isto em termos de Mercado de Trabalho.

Aquilo que realmente me preocupa é a Educação, no geral:
  1. Educação, no seu sentido estrito, não existe;
  2. Educação, no seu sentido lado, só tem reais efeitos a partir do Ensino Superior. E mesmo assim, o problema referido em (1) alastra para (2).
Ora, a partir do momento em que um jovem, na sua tenra idade, se considera no direito de ter maior autoridade, que a própria autoridade (na sala de aula, note-se), onde queremos que isto vá parar?

Mais deprimente ainda, é a legitimação dessa mesma "autoridade", pela autoridade da autoridade (em última análise, o Estado, todos nós, portanto).

O quadro é negro, vergonhoso, humilhante: ao contrário do apregoado, os resultados dos famosos do PISA - Programa Internacional de Avaliação dos Alunos - colocam-nos na cauda dos países participantes, entre eles, países da Europa de Leste, ainda hoje vistos como os "parentes pobres" da ex-URSS.
Consulte, para informações adicionais: http://www.pisa.oecd.org/pages/0,3417,en_32252351_32236225_1_1_1_1_1,00.html

Ainda mais negro e vergonhoso é aperceber-se que este problema deprimente alastra para o Ensino Superior. Seria o PISA bem empregue, nesta situação? Provavelmente iria revelar uma realidade muito triste, com a qual muitos ficariam surpreendidos e, certamente, não saberiam lidar.

Ainda neste ponto, o Bolonha só veio beneficiar os amantes de pizza ou de lasanha, porque em termos de formação do capital humano e dotação de conhecimentos suficientemente avançados, requeridos pelo Mercado de Trabalho actual, temos um longo caminho ainda a percorrer.

Na verdade, todos se acham preparados e bem formados, para serem grandes profissionais, cheios de sucesso. O pior: a mentalização é uma falácia. A realidade é capaz de mostrar uma Sociedade cada vez menos culta, formada, educada, no que aos aspectos mais básicos diz respeito. Temo que, no futuro, teremos inúmeros Doutores mentalizados que sabem o que não sabem e que ensinam o que não sabem ensinar (será que já não os há?...).

Em resumo, no futuro, o Mundo é daqueles que desde o principio viveram com os olhos abertos e souberam aproveitar as oportunidades, por seu mérito próprio (apesar de muitos fazerem crer o contrário; há que ajeitar o cotovelo...), pois esses saberão fazer, tal qual na Grécia Antiga, no centro da Polis: um belo discurso, imensos aplausos, vitória obtida.

Será isto legitimo? Não serei eu a dizê-lo, mas sim a própria Sociedade. Se como estamos, a exploração laboral, intelectual e social é a que todos (os que não são ingénuos) conseguem vislumbrar, então estamos a retroceder, em termos de pensamento.

E porquê? O estado da educação (e formação) é o espelho da Sociedade em que vivemos.

O povo está a estupidificar-se e eu não consigo deixar de o dizer. Serei o único a vê-lo?

domingo, 22 de maio de 2011

Homocedasticidade

Um palavrão com o qual, certamente, consegui captar a atenção de todos os leitores. Na realidade, todos nós temos especial apetência a surpreender-nos com "palavrões". Uns indignam-se, outros seguem a sua Vida sem ligar muito ao palavreado.

A verdade é que eu cá gosto de "palavrões", principalmente daqueles que são enriquecedores da nossa cognição. Os restantes servem para exteriorizar outro tipo de "casamentos" entre pensamentos e ideias, não deixando, por isso, de ser menos válidos: depende é da situação.

Aos gregos, toda a minha consideração pela revolução no pensamento que operaram na Era Antiga. Ainda hoje conseguem deixar marcas bem visíveis no nosso quotidiano; como esta.

"Homocedasticidade", talvez de forma mais perceptível, "Homoskedasticity", do grego:
"homo" - "mesmo(a)"
"skedasis" - "dispersão"

Para os menos familiarizados com o termo, isto é uma das "dores de cabeça" para quem gosta de modelos de regressão: em qualquer tipo de dados (temporais ou "individuais") podemos ter umas quantas variáveis com comportamentos bastante instáveis, com grande variabilidade, portanto.


MAS (lamento esta "chamada de atenção", mas provavelmente a esta altura já a maioria dos leitores teriam fechado a janela):

A verdade é que, se os dados, sendo demonstrativos de alguns aspectos do Ser Humano, revelam este tipo de problemas, quando combinados de determinada forma, então agora imagine-se o que é conseguir captar este tipo de instabilidade nos individuos, per si.

Confuso? Muito simples: o Ser Humano é função da Sociedade em que vive. Se é para seguir A, então a multidão vai por A. Se é para seguir B, então a multidão vai por B. Se no fim de contas A é melhor, então voltam todos para A.

Fará isto sentido? Claro que sim! Caso contrário, as consequências psicológicas do "anti-social" são bem mais dolorosas que a pena de prisão em Rikers Island (que está tanto na moda...).

Quando surge um problema? Quando esta situação de instabilidade é característica constante.

A Sociedade rege-se por valores, alguns deles duvidosos, justificados por qualquer Cientista Social como: "fruto da crise global". Pois parece que a Sociedade já vive em crise há muitos anos. E com o passar destes, tende a acentuar-se.

No entanto, mesmo pensando nos valores "não duvidosos" da Sociedade, muitos dos seus elementos caem no ridiculo quando, sendo fervorosos defensores de uma causa, religião, profissão, o que for, agem como duas pessoas numa só, sendo instáveis (na sua pior acepção), por definição.

Ora, se a Sociedade já é bastante instável, porque fazer dela ainda mais instável? Para quê ser aquilo que não se sente que é? Se hoje em dia, as relações negociais, quaisquer que sejam, são indubitavelmente regidas por desconfiança, para quê tanta contestação se poucos são aqueles que seguem à risca o caminho que se vincularam a seguir?

Tudo tem uma explicação, ou pelo menos, espero que a minha seja convincente: os indivíduos agem em função de interesses. Torna-se problemático quando esses mesmos chocam com as convicções, sua fiel rival; tal como "um menino não deve bater numa menina, nem com uma flor", o quadro também fica estragado quando os interesses chocam com as convicções.


Preze-se a homocedasticidade, isto é, viver dentro dos limites a partir dos quais a liberdade de cada indivíduo, começa a usurpar da do próximo.

Caso contrário, dá-se razão àqueles que defendem o "sentido nenhum".



Quo Vadis, Frater?

sábado, 21 de maio de 2011

Nascer

Tal como um casal assume vontade de colocar neste Mundo um Ser semelhante, demonstrativo do seu Amor e Comunhão, também o pensamento assume essa vontade de, sendo casado com as ideias (polígamo por defeito), colocar neste Mundo uma representação escrita do equilíbrio de muitos impulsos desse "casamento", vulgarmente designado por, expressão.

Ora a MINHA expressão, isto é, o "casamento" do meu pensamento com as minhas ideias, representa muito daquilo que eu sou e sinto que passa à minha volta. Por isso mesmo, recuso-me a ser um cidadão inerte e insípido: para mim, tudo tem um sentido, mesmo que seja nenhum, porque já é alguma coisa.

Um bom ponto de partida: o zero, porque começar do nada, já é começar de algum sitio.