quinta-feira, 14 de julho de 2011

Os Profetas

Durante estes últimos dias têm aparecido em força diversos movimentos contra a agência de rating Moody’s, exigindo que recoloque a notação da dívida portuguesa – e não de Portugal, note-se – num nível acima da escala de especulação, ou como é habitualmente chamada, na escala de “lixo” financeiro; exigindo um pedido de desculpas pelas acções agressivas contra as economias europeias (!!!); exigindo até que seja responsabilizada pelo incremento da nossa dívida (!!!).

Enfim, uma panóplia de barbaridades. Tudo graças à contra-informação dos meios de comunicação.
Infelizmente, são poucos os jornalistas que, hoje em dia, têm formação em Economia (e aqueles que a têm, não a usam). Muito menos parecem ter noção da realidade em que vivemos, não só em termos económicos e financeiros, como em termos sociais.

Portugal é um país onde se aplaude o chumbo – uma forma de integração social; onde a inexistência de objectivos é um argumento para se viver despreocupado; onde a ignorância académica prolifera ano após ano. Em resumo: uma bandalheira generalizada, que poucos se arriscam a reorganizar, pois não querem estar associados a números infelizes, no que toca à Educação (em todos os seus sentidos).

Ideias introduzidas, passe-se então à discussão: mas que imbecilidade é esta de se pensar que nós, portugueses, somos capazes de “destruir”/provocar dano à Moody’s? Anda tudo satisfeitinho pelas suas acções estarem em queda e porque se conseguiu entrar no seu site e bloquear o servidor, e porque isto e porque aquilo. É preciso dizer, ou já todos os caros leitores perceberam o tipo de pessoas a que me estou a referir? Insisto: ignorantes, da mais fina estirpe.

Lamento, mas tenho de ser desmancha-prazeres: este grupo de pessoas (espero que restrito e em vias de extinção) está bastante enganado.
Como referi na minha publicação anterior, os Estados Unidos da América enfrentam um enorme problema em relação à sua dívida, que já ultrapassa a proporção de 100% do PIB (uma Grécia em ponto grande, portanto…), estando o colapso próximo, pelo que, depois do que aconteceu em 2007 com o Lehman Brothers, já poucos conseguem ludibriar os investigadores (racionais ou especuladores).
Por isso mesmo, a pressão sobre os mercados financeiros começa a fazer-se sentir: fortes quebras, registadas logo no princípio desta semana, em todas as Bolsas de Valores mundiais; no entanto, já com impacto nos E.U.A. desde a semana passada, data do, sobejamente famoso (ou talvez não), “ataque” à Moody’s.

A acrescer a toda esta panaceia, há que entender um pouco da realidade das empresas norte-americanas: é difícil encontrar um dia em que cibernautas “piratas” decidem deixar os seus sites em sossego, bem como a estrutura informática, no que a passwords e caixas de correio electrónico diz respeito. Como método de precaução (mais ou menos falível), certas medidas há a tomar: bloquear mensagens electrónicas de endereços externos à empresa, bloquear servidores a determinada área de IP’s, rejeitar correio com características suspeitas (que provavelmente nem chegam a ultrapassar as alfândegas), enfim…

Portanto, um conjunto de medidas que deitam grande parte do “ataque” sob a forma de “lixo no correio” para o sítio onde deveria estar…no lixo!
Notem, caros leitores, lixo, é sobejamente diferente de “lixo” financeiro: um é reciclável, outro é transaccionável (no Mercado Secundário) e talvez seja uma forma de “salvação” deste País. Claro, com uma contrapartida financeira associada: o juro. Se é sustentável ou não, tudo é passível de discussão.

Deixemos de ser profetas da desgraça! Será assim tão racional afirmar que os Bancos cobram juros elevados, quando, de forma incessante, se continua a recorrer ao crédito?! As razões? São as mais diversas e muitas delas sem qualquer nexo de sustentabilidade nas finanças pessoais e familiares.
Ora, o mesmo se passa com o Estado, caríssimos. E se o “Estado” somos todos nós, se queremos mudar de atitude, será sob concertação. Quem não tem dinheiro não tem vícios e muitos foram os vícios dos últimos anos… De todos nós!

Mas parece que a presente situação continua a ser para prolongar brincadeiras: apela-se ao gasto de 3€ para se enviar, pelo correio, uma caixa com lixo para a Moody’s. Ideia sui generis, sem dúvida, cujo destino é…o lixo! Para os leitores que ainda não perceberam porquê, recomendo nova leitura a partir deste ponto.
Melhor ainda para uma empresa pública que há muitos anos clama por financiamento, sendo mais um caso de gestão danosa: os CTT.

E ainda se reclama que o descalabro do Banco Privado Português (BPP) é financiado pelos contribuintes.
Corta-se no subsídio de Natal, todos se ofendem. Pede-se para deitar dinheiro ao lixo (literalmente), todos estão de acordo. Brilhante…
Obviamente que qualquer leitor poderá ficar bastante chocado com estas afirmações, por questão de comparabilidade. Pois, pensando bem na dimensão da barbaridade, olhe que não.

Que tal utilizar o lixo das Florestas, rios e lagoas portuguesas para enviar à Moody’s, mostrando os próprios cidadão estão empenhados em mudar qualquer coisinha? Apesar de ter o lixo como destino (local adequado, portanto), haveria um real serviço ao País, em prol do desenvolvimento (de espaços verdadeiramente verdes) – agradeço a Joana Raminhos por esta observação.

Viva aos Iluminados sem luz.

domingo, 10 de julho de 2011

Uma questão de Lixo

Caros leitores, após um período de interregno devido a obrigações académicas, regressam as minhas publicações mais ou menos económicas, conforme o ponto de vista.
Não pude deixar de falar na questão quente dos últimos dias: o downgrade (com perspectivas futuras negativas) da Moddy’s em relação à dívida pública portuguesa de Longo Prazo (acima de 1 ano), classificando-a na escala de Especulação (Ba1 – qualidade de crédito duvidosa).

Ora, no seio do Mundo Financeiro esta escala é vulgarmente apelidada de “lixo”, o que não deixa de ter o seu sentido, pois dívida pública que esteja exposta a um nível de risco tão elevado, por via do risco de falência (ou default), sem dúvida o mais importante, estará escalada em função desse factor. E sim, infelizmente é essa a nossa situação (apesar de não ser tão grave quanto a de outros exemplos), que leva consigo todos os sectores da economia, que também representam Portugal.

Não surpreende, portanto, aquilo que aconteceu. E, ao contrário de muitos, não me choca.
Eu próprio não era nascido e já Portugal vivia à base do dinheiro comunitário a fundo (quase) perdido. Desde que esse “biberão” terminou, com a entrada dos países do Leste europeu na União, eis que diversos problemas estruturais e conjunturais começaram a suscitar atenção e a assumir proporções inimagináveis, pois nunca tinham sido motivo de preocupação para os Governantes eleitos pelos cidadãos portugueses.
É certo que muitos argumentam a inexistência de alternativas políticas, na altura. Pois agora, menos alternativas existem: ou nos sujeitamos às imposições “acordadas” com a Troika, ou seremos um país a viver numa bancarrota irremediável.

Acrescendo a estes factos históricos, existe ainda a desconfiança dos investidores em relação à qualidade das políticas do FMI. O caso que maior polémica gerou (e ainda permanece) situa-se na América do Sul: Argentina, onde as políticas estruturais e conjunturais levaram ao desastre económico sem precedentes.

Mais: no meio financeiro, poucos são os que conhecem o actual Primeiro-Ministro, Dr. Pedro Passos Coelho. Todavia, começa a surgir reconhecimento das suas ideias reformistas, cujo impacto poderá ser bastante positivo para o presente e futuro da economia portuguesa.
No entanto, muitas dessas ideias esbarram no memorando e no "fantasma" da inadequação económica, financeira e social das políticas estruturais do FMI, cujo resultado está longe do esperado.
Aliando dois tipos de desconfiança (em Portugal e no FMI), é perfeitamente natural que a nossa dívida seja considerada “lixo” financeiro e que a probabilidade de falência esteja acima dos 50%.

No entanto, será esta a verdadeira percepção de um investidor racional? Talvez sim, talvez não.
O oligopólio das agências de Rating situa-se do outro lado do Atlântico, onde o interesse em reequilibrar a “balança”, favorecendo o Dólar Americano, começa a tomar proporções criminosas.
Assim sendo, estas agências encontram-se do lado da barricada onde coabitam com investidores que beneficiam das “perturbações”, vulgo, especuladores.
Mas mesmo esta estreita relação já teve maus dias, em especial no caso Lehman Brothers, banco de investimento com notação Aaa (a mais elevada de todas, isto é, obrigações de “elevada qualidade”, sujeitas ao mínimo risco), deixando muitos destes investidores, privados das suas fortunas.

Coloca-se em questão a credibilidade destas agências e as suas intenções perante tão feroz ataque às economias europeias mais fragilizadas com a crise Financeira, que colocou a nu o efeito de se utilizar o dinheiro para fins ineficazes e ineficientes.
Surpreende-me que nenhuma repare na “bomba-relógio” do seu País, Estados Unidos da América: a crise da Dívida, também já chegou e quando se fala numa proporção de 100% do PIB americano, fala-se em triliões de dólares. Curiosamente, continua classificada como Aaa, apesar das ameaças de downgrade… Acrescendo a este problema existe a China, principal credor americano, que detém uma grande parte da dívida, como controlo cambial.

É assim tão pessimista da minha parte considerar que em menos de 5 anos estaremos numa nova crise, cuja dimensão poderá ser inimaginável? Talvez não… Assim, mais vale precaver e cortar no subsídio de Natal e no “biberão” da Segurança Social, pois tempos difíceis estão para vir.
Muito provavelmente cumpriremos o que foi acordado. Resta saber em que situação estrutural ficaremos e se teremos capacidade de enfrentar uma nova crise, que irá limitar o acesso a crédito externo, por parte do Estado e de Bancos.

Será que Portugal continuará no “lixo”, ou trocará de posição com as agências de Rating, cujos interesses são plenamente evidentes, zelando pela especulação e pouco pela verdade financeira (especialmente para o caso Americano)?
Fará assim tanto sentido criar uma agência de Rating europeia, para uma simples “luta de crianças” com as americanas? Muito provavelmente, uma ideia concebida de forma precoce levará ao descrédito total deste tipo de instituições, caindo-se no vulgar exemplo do "puxar a brasa à sua sardinha".

Na minha perspectiva, uma coisa é certa: daqui a 10 anos, todo o Sistema Financeiro estará bem diferente, pois aquele em que actualmente vivemos é absolutamente insustentável para a Economia Mundial.